O fato da cultura narcisista supervalorizar o self e não as ações das pessoas nas relações com o ambiente, traz uma implicação mais grave ainda: a desvalorização do esforço. Daí deriva as seguintes verbalizações: “por meu filho ser inteligente, não precisa estudar muito”, “a melhor forma de ganhar dinheiro está em investir na bolsa de valores: o dinheiro vai trabalhar por mim”, são inúmeros os exemplos dessa ordem.
Deixar os filhos jogando videogame de forma permissiva, pode indicar dois aspectos: a crença de que seu “self” vai conduzi-lo ao sucesso naturalmente, simplesmente porque seu “self” carrega características que o torna um ser especial: esforçar-se demais indicaria que ele não é tão especial assim.
Um segundo aspecto está no fato de que tirá-lo do videogame daria muito trabalho para os pais: conflitos. Ou mesmo, frustraria demais o filho, sendo que “o meu papel como pai ou mãe está em apenas produzir bem estar nele”.
Essas implicações, tendo em vista uma supervalorização de uma “ética hedonista” e “permissiva” em todas as esferas das relações afetivas, vão na contramão do desenvolvimento pessoal, relacional e social em nossa cultura.
Só para ratificar: qualquer forma de desenvolvimento pessoal ou relacional exige um processo de agir sobre o mundo: gradativo, com organização, disciplina e muito esforço!
Devemos refletir muito sobre como tudo isso nos afeta sob influência da cultura narcisista!
Wilton de Oliveira
ITECH-Campinas
Referências:
Lipovetzky, G. (2002) A era do vazio. Editora Manole: São Paulo.
Lasch, C. (1997) Culture of Narcissism - American: Life in Age of Diminishing Expect. W. W. Norton & Company
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