A tristeza com a morte de Milan Kundera nos faz lembrar de uma das maiores obras do século XX: A insustentável leveza do ser.
Aspectos psicológicos, políticos e filosóficos se encontram com uma profundidade e sintonia poucas vezes vista.
Dicotomias como público e privado, leve e pesado, opressão e liberdade, ao mesmo tempo em que se dialoga com o conceito de eterno retorno de Nietzsche, se apresentam na obra de forma sublime.
Tomás, um dos protagonistas, emana a leveza por sua forma de estabelecer suas relações afetivas e sexuais: colocando a liberdade e a instabilidade acima de tudo. O contraponto afetiva encontra-se na personagem de Tereza: profunda, pesada, de modo a buscar a estabilidade no amor sentido por Tomás. O modo de ser (leve) de Tomás é sofrido e insuportável para Tereza. A outra personagem, Sabina, compartilha da leveza, presente na instabilidade afetiva de Tomás.
Os personagens são complexos: esse modo de ser afetivo e sexual de Tomás, constrasta com sua posição política: firme e irresoluta em sua posição contra a ditadura soviética, presente em um artigo crítico ao regime, que escreveu em um jornal tcheco.
O peso de toda ditadura, em sua busca de poder eterno, contrasta com a leveza da democracia, que está intrinsecamente buscando a alternância (mudança) de poder.
O conceito de “eterno retorno” de Nietzsche diálogo com tudo isso. A continua repetição de um evento ao longo dos tempos, torna esse evento “insustentável”.
Tomás se render ao amor contínuo e “pesado” de Tereza é uma especie de amadurecimento do ser?
Ou seria a morte da criatividade, da leveza e da luta pela liberdade? Ou mesmo a morte do “ser”?
Milan Kundera continua atual! Talves tenha alcançado a eternidade de forma leve e profunda.
Wilton de Oliveira
Instituto de Terapia e Estudo do Comportamento Humano-ITECH
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