“Freud menciona três incidentes que derrubaram sucessivamente a arrogância humana. (1) Houve uma época em que pensávamos que vivíamos no corpo central de um universo limitado, até que Copérnico, Galileu e Newton identificaram a Terra como um insignificante satélite de uma estrela marginal. (2) Então nós nos confortamos imaginando que, não obstante, Deus escolhera essa localização periférica para criar um organismo único à Sua imagem - até que chegou Darwin e "nos relegou à condição de descendente de um mundo animal". (3) Aí procuramos consolo em nossas mentes racionais até que, conforme Freud observa em uma das menos modestas declarações da história intelectual, a psicologia descobriu o inconsciente”.
Stephen Jay Gould
A descrição feita pelo renomado paleontólogo e biólogo evolucionista S. J. Gould sobre a reflexão de Freud, descrita no post, faz referência às crenças que permearam o desenvolvimento do conhecimento humano, abordando o universo, a vida e a pessoa humana. Essas crenças compartilham algo em comum: a noção de que os seres humanos possuem algo especial.
Inicialmente, havia a ideia de que o universo teria sido criado especialmente para os seres humanos, resultando na concepção de que a Terra ocupava um lugar central no universo: uma espécie de “moradia” construída para os humanos. No entanto, essa visão contrasta com a realidade de que que o planeta terra é apenas um "pontinho minúsculo" em alguma periferia de uma galáxia na imensidão do universo.
Em segundo lugar, havia a crença de que a vida humana era o propósito central e primordial do planeta Terra. No entanto, a ciência descobriu que a existência humana foi fruto do acaso. Apenas uma ramificação em meio a diferentes ramos de espécies humanoides que existiram ao longo de milhões de anos, em um planeta já com outras formas de vida: há muito mais tempo do que imaginávamos.
A terceira afirmação refere-se a noção de que os seres humanos possuíam uma centelha especial de alma, mente ou razão que os tornam únicos. Capazes de serem senhores de suas ações e escolhas, controlando seu próprio destino de forma distinta do que qualquer outra forma de vida.
Embora a frase de Freud, pretensiosa por decidir colocar-se ao lado de personalidades que mostraram sua importância ao longo dos séculos da história da ciência, indica algo muito importante: o comportamento humano é determinado. Freud entende que, pelo inconsciente. Skinner entende que, por três níveis de determinação: filogênese, ontogênese e sociogenese. Ambos concordam que o ser humano é bem menos dono de si mesmo, de seus próprios comportamentos, do que sonhou ser.
Restou-nos a humildade necessária para afirmar: “vamos aproveitar a vida, que nos foi dada ao acaso, nesse planeta perdido em algum lugar do espaço: ela pode ser maravilhosa. Vivida com alguns lampejos de fé, consciência, determinação e amor pode ajudar muito!
Mas, para isso, não podemos deixar de ficar atentos e negociar com os tais determinantes”.
Wilton de Oliveira-ITECH
Referência: Jay Gould, S. (2001) Lance de Dados: a idéia de evolução de Platão a Darwin.
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