As relações afetivas digitais tem sido foco de muitas pesquisas.
Um dado bastante interessante diz respeito a como os indivíduos interpretam o controle coercitivo existente em tais relações.
Usar o sistema digital para monitorar o comportamento do outro (histórico do WhatsApp, percursos do Instagram, aplicativos de busca etc) passou a ser visto como um comportamento essencial da relação “amorosa”. Compartilhar senhas, passou a ser valorizado como o maior indicador de confiança mútua. Apagar as mensagens do celular do outro tem sido percebido como prática afetiva comum.
Por outro lado, permitir todo esse controle, tem significado que a relação já está consolidada.
A dinâmica relacional atual parece indicar o seguinte: quanto mais vinculados estamos, mais controle recíproco pode ser permitido. (Em: Lucero e Col. , 2014).
Entendemos esses dados da seguinte forma. Relações que estabelecem contingências em que reforçar os comportamentos de controlar um e outro reciprocamente, tenderá a gerar uma relação de, cada vez mais, controle. Até que ambos, não façam outra coisa a mais, do que, controlar.
Assim estão sendo construídas relações fadadas ao fracasso.
Parece ser essa uma dimensão significativa da fragilidade das relações atuais. Excesso de controle destrói relações.
Relações que produzam amor e não controle, parecem ser cada vez mais raras. E a digitalização das relações afetivas, parecem estar contribuindo para que isso ocorra em larga escala.
Empatia, respeito do espaço alheio e aceitação da liberdade do outro, fundamentos essenciais da relação amorosa, tem sido considerados, componentes que dão muito trabalho. Mas, diante dessa prática social, os vínculos afetivos não se consolidam.
Quais deveriam ser os limites a serem colocados no digital para ajudar a construir relações mais saudáveis?
A resposta para essa pergunta parece ser fundamental para podermos estabelecer relações mais profundas, duradouras e possibilitadoras de crescimento mútuo!
Wilton de Oliveira
ITECH-Campinas
Referência
Lucero JL, Weisz AN, Smith-Darden J, Lucero SM. Exploring gender differences: socially interactive technology use/abuse among dating teens. Affilia 2014; 29:478-91.
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